quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Quanto custa estudar na ECO?

As dificuldades de se estudar em uma Universidade federal não acabam com a aprovação no vestibular. Após o ingresso, problemas, sobretudo econômicos, são enfrentados pelo estudante. Apesar do aluno da ECO ser, majoritariamente, das classes média e alta, não é fácil se manter estudando na cidade maravilhosa. Os cariocas não saem imunes, mas são os alunos vindos de fora que mais sentem o peso no bolso: custos de moradia e alimentação elevados, aliados à falta de estrutura do alojamento universitário e a insuficiência dos chamados “bandejões”.

Os preços sobem. As bolsas, não


Ser aprovado no processo seletivo da maior universidade federal do país pode induzir o estudante a esperar receber um ensino de qualidade e gratuito. A Universidade do Brasil, de fato, tem o ensino renomado e não cobra contribuições financeiras de seus discentes. No entanto, isso não anula os gastos necessários para manter uma graduação na 11ª cidade mais cara do mundo, segundo pesquisa divulgada em setembro da consultora imobiliária Savills.

A capital fluminense tem o metro quadrado mais caro do país, de R$10.830. O valor das passagens de trem e metrô também estão no topo do ranking nacional: R$3,20 e R$3,50, respectivamente. Já a de ônibus está empatada com São Paulo/SP, Campo Grande/MS, Recife/PE e Brasília/DF, mas deve liderar na modalidade a partir de 2015, quando deverá ter uma alta de 3%, alcançando R$3,10, arredondando os centavos. O reajuste, segundo a Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano, é necessário devido ao aumento de 5% no preço do Diesel.

De acordo com o Sindicato da Habitação (Secovi Rio), a taxa condominial por metro quadrado na cidade subiu 7,7%, de setembro de 2013 a igual mês deste ano. A alta do aluguel residencial na cidade do Rio, segundo apurou o IBGE, variou 9,61% no mesmo período. Já o Índice Geral de Preços - Mercado (IGPM), da Fundação Getúlio Vargas, teve alta de 3,05% no acumulado do ano até novembro. Já em doze meses, o avanço foi de 3,66%. 

Com custos tão altos, manter-se no Rio de Janeiro para estudar com pouca ou nenhuma renda fixa torna-se um trabalho de Hércules. Alunos cariocas, fluminenses de outras regiões do Estado, intercambistas estrangeiros, além do número crescente de graduandos vindos de outras partes do Brasil, enfrentam uma realidade desafiadora, que pode ameaçar sua permanência na UFRJ.

A Universidade, então, adquire um papel assistencial aos alunos vulneráveis a esse cenário. A Superintendência Geral de Políticas Estudantis (Superest) é a divisão responsável por prover bolsas e auxílios aos universitários. De janeiro a outubro, o órgão distribuiu mais de 55 mil bolsas a 5600 alunos, totalizando R$32,5 milhões. O orçamento do Programa Nacional de Assistência Estudantil prevê que até o fim do ano R$37 milhões em bolsas sejam entregues.

As bolsas não são reajustadas desde o início de 2013, segundo Ericksson Rocha e Almendra, titular da Superest. No entanto, a responsabilidade pelo valor da assistência não é definido pela universidade. "O valor das bolsas de Assistência Estudantil, em todo o país, são na prática indexados ao valor da Bolsa de Iniciação Científica do CNPq e do Capes", explica. O aumento também não é imediato. De acordo com o superintendente, questões orçamentárias da universidade atrasam em alguns meses o ajuste aos demais estudantes.



No período de estagnação das bolsas em R$ 400, a inflação subiu. A nível nacional, o índice chegou a 5,91% em 2013, enquanto, na cidade do Rio de Janeiro, teve alta de 6,16%. Até novembrode 2014, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) já alcança 5,58% no país e 6,13% na Região Metropolitana fluminense, levando-se em conta a variação acumulada no ano. A pesquisa considera os custos das famílias com ganhos de 1 a 40 salários mínimos em dez regiões metropolitanas do país e nas cidades de Goiânia, Brasília e Campo Grande.

O grupo de maior impacto no índice relativo a novembro está diretamente ligado ao cotidiano estudantil: alimentos e bebidas, que foi responsável por 37% do IPCA. O quesito teve a maior variação em novembro, de 0,77%. Entre os subitens, a alta da refeição no mês foi de 0,59%, enquanto a variação acumulada no ano e nos últimos 12 meses alcançou 8,43% e 9,68%, respectivamente.




Já o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que se refere às famílias com rendimentos de 1 a 5 salários mínimos, indicou que, nos últimos 12 meses, o índice local alcançou 7,44%, acima da média nacional de 6,33%. Ambas as pesquisas divulgadas pelo IBGE mostram o Rio de Janeiro com índices de preços acima dos números do país, conforme mostram os gráficos abaixo:

IPCA




INPC




Universidade não tem estrutura suficiente para assistência estudantil

 

Imagem interna de um dos ambientes do alojamento. Foto enviada pela estudante Ilca Dias.


A UFRJ é a maior universidade federal do Brasil e conhecida por ser um dos pontos de excelência da Educação Superior do país. Com mais de 50 mil estudantes matriculados, é uma das Instituições Federais de Ensino (IFE) com maior parcela de orçamento da União. Em 2014, o investimento feito pelo governo federal girou em torno de 1 bilhão e 900 mil reais (1.955.261.455,55 de reais), sendo destes 37 milhões de reais destinados a implementação de bolsas de assistência estudantil , no ano de 2014.

As bolsas de assistência estudantil (Bolsa Auxílio, Auxílio Manutenção, Bolsa de Acesso e Permanência e respectivos auxílios transporte e Auxílio Moradia Emergencial para o Rio de Janeiro e Macaé) são pagas com recursos orçamentários do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), programa criado em 2008 com intuito de diminuir as desigualdades presente na Universidade brasileira, e que em 2010 tinha orçamento  superior a 300 milhões  para atender demandas de 112 universidades públicas do território nacional, sendo a UFRJ a instituição que recebe a maior fatia dessa divisão.

Mesmo sendo a universidade com maior investimento nas políticas assistencialistas, a realidade de muitos desses estudantes é alarmante. No dia 28 de outubro desse ano, o superintendente das Políticas estudantis da UFRJ enviou um e-mail endereçado a todos os acadêmicos  afirmando  que o perfil dos estudantes da universidade estaria menos elitizado. O e-mail dizia:

"O perfil do nosso alunado mudou, vem mudando muito nos últimos poucos anos. Isso por causa do ingresso via ENEM/SiSU e da política de cotas. Temos mais e mais alunos provenientes de outros Estados e Municípios, mais e mais alunos carentes, mais e mais alunos portadores de deficiência, etc."

Foto enviada pela estudante Ilca Dias.

Breno Botelho, estudante de Ciências Sociais no IFCS, é um desses alunos. Vindo de Teresina, no Piauí, conta que veio para a UFRJ com intuito de se tornar pesquisador “Quem não quer estudar na melhor universidade do seu país?”, indaga.  Ele vive no alojamento da Universidade há quase 2 anos e conta que nesse tempo já teve vontade de desistir do seu sonho muitas vezes. “As condições de vida aqui são muito ruins,até ratos já encontramos na Caixa d'água do Aló.”

Breno foi um dos estudantes que fizeram uma ocupação no prédio da reitoria no mês de setembro em protesto à declaração feita pela reitoria da UFRJ pedindo aos estudantes que não tivessem condições de se manter no Rio de Janeiro, que não prestassem vestibular para a federal da cidade maravilhosa.

“Discutam com suas famílias as condições de sobrevivência no Rio de Janeiro, caso não venham a ser selecionados para receber uma bolsa de assistência estudantil”. Para os bolsistas selecionados a carta recomenda: “devem ter ciência de que a bolsa irá apoiar a sua permanência, mas, certamente, seus familiares terão que arcar com parte dos recursos necessários para sua manutenção nesta cidade cujo custo de vida é dos mais altos do Brasil”. O documento finaliza: “Estudar em outra universidade, mais próxima de casa, pode minimizar custos e significar a diferença entre concretizar um sonho ou vê-lo frustrado por toda a vida”.

À época do acontecimento, a representação estudantil se pronunciou pedindo retratação da  reitoria  “Queremos uma universidade democrática e não uma universidade que diga para os alunos de baixa renda que não os quer aqui”, dizia a nota do Diretório Central dos Estudantes.

A resposta da reitoria veio pelo próprio reitor Carlos Levi,  no Conselho Universitário do dia 14 de agosto:  “Poderíamos rever os termos da carta, mas a ideia foi justamente que os alunos tenham responsabilidade de se candidatar para universidades nas quais tenham condições de se manter”.


 

 Perfil dos estudantes da ECO


Há um perfil socioeconômico predominante entre os alunos da Escola de Comunicação da UFRJ: estudantes das classes média e alta compõem a maior parte do corpo discente. Em uma pesquisa feita com 100 alunos, 75% dos entrevistados alegaram possuir uma renda familiar superior a cinco salários mínimos. Destes, quase metade possui mais de dez salários em casa. Cerca de 1300 alunos estão atualmente matriculados no curso de Comunicação Social.

Outro dado que incrementa esse perfil é o local de moradia de boa parte dos alunos: o bairro com maior número de estudantes residentes é a Tijuca, seguido por Botafogo e Copacabana. Só nesses três bairros, tipicamente das classes média e alta, concentram-se 46% dos alunos pesquisados. Em seguida aparecem os moradores da região metropolitana (Baixada Fluminense, São Gonçalo e Niterói), que contabilizam 12% do total.

É possível buscar uma explicação para o grande número de alunos residentes em Copacabana e Botafogo: a faculdade se localiza praticamente na divisa entre os dois bairros. Tal fator atrairia boa parte dos alunos migrantes de outras partes do Brasil a buscar uma moradia próxima ao Campus da Praia Vermelha, muitas vezes em repúblicas de estudantes.

Entre os estudantes que já estagiam, cerca de 80% recebe mais do que um salário mínimo, e metade destes ganham mais de R$1000,00 por mês. Somente três alunos recebem até R$400,00, dado que provavelmente se refere aos alunos bolsistas de iniciação científica.

Dentre os pais dos alunos, o número de funcionários privados leva ligeira vantagem sobre o de funcionários públicos: 72 e 61, respectivamente. Completam o quadro 17 profissionais autônomos, 3 desempregados e 2 aposentados.

O resultado da pesquisa intriga a muitas pessoas que já percebiam, no dia-a-dia, o perfil socioeconômico do aluno da ECO. A polêmica é: em se tratando de uma faculdade pública, responsável por universalizar o ensino e promover a ascensão social para as camadas mais pobres, será justo abrigar majoritariamente alunos das classes A e B?

Um contraponto desta abordagem é a análise da professora e vice-diretora da Escola, Cristina do Rêgo Monteiro, que atesta para o outro lado da questão: as mudanças que, há anos, vem ocorrendo no perfil socioeconômico do aluno:

“Se são 75% de alunos de classes média e alta, significa que 25% não pertencem a essas camadas. Antigamente esses 25% eram ainda menores. Penso que a entrada de políticas de alcance integrador já se faz sentir. A questão é que nenhuma política pontual modifica um quadro crônico social como o brasileiro”.

Se as políticas aplicadas podem apontar para uma maior inclusão social na ECO e UFRJ como um todo, existiria algum limite de implantação de tais medidas, dentro de um contexto político e econômico maior? A professora se questiona:

“Temos a possibilidade de oferecer um curso gratuito, temos as cotas, temos preocupação com a extensão. Também temos novas propostas de melhores instalações dos alunos vindos de fora do Rio, que hoje em dia são totalmente precárias. Todas essas políticas tendem a integrar, mas se encontram dentro de um sistema. E até que ponto este sistema agrega, realmente? Toda valoração desse sistema, do ponto de vista do que é importante para a sociedade, aponta em qual direção?”

Fica a pergunta para os leitores.

Intercambistas gastam mais com moradia e alimentação


Moradia e alimentação são os principais gastos dos alunos estrangeiros presentes na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A maioria dos alunos inquiridos afirma ter uma despesa entre R$ 901 e R$ 1900 com o alojamento. Estes números apenas vêm confirmar os preços elevados no aluguel de imóveis no Rio de Janeiro.

Segundo a pesquisa sobre o perfil económico respondida por 31 alunos de intercâmbio, os mesmos despendem em média R$ 1970 por mês, o equivalente a 2,5 salários mínimos, ou se quiser, USD$ 650.

Relativamente ao desembolso com a alimentação, mais de 60% dos alunos pesquisados responderam que gastam entre R$ 200 e R$ 500 ao mês, sendo que entre estes o limite despendido pela maioria é de R$ 300. Desta forma, é possível analisar através dos números da amostra que, mesmo que estes alunos tenham feito suas refeições no restaurante universitário, apresentam, ainda assim, valores reduzidos em relação aos preços dos demais restaurantes da cidade.

No entanto, nem só de casa e refeições se faz um gringo da UFRJ. No que toca a choupes, caipirinhas, noite e diversão, o maior número de alunos desembolsa quantias entre os R$ 250 e R$ 750. É certo que em intervalos inferiores, os compreendidos entre R$ 0 e R$ 250, têm um valor expressivo, porém é no intervalo primeiro que se centra a maioria.

O mais interessante surge quando cruzamos os dados médios da alimentação e diversão e entretenimento. Em média um aluno de intercâmbio despende aproximadamente R$ 374 com refeições e R$ 343 com lazer. Em números práticos, são 75 choupes contra 69 se cada um custasse R$ 5.

Como é fácil de constatar, os números de choupes estão muito próximos, sendo assim um indicador de que a alimentação não é de todo a maior preocupação dos alunos de intercâmbio.

As despesas com viagens são as que apresentam os valores mais baixos. Ao contrário do que se passa com uma boa parte dos alunos que fazem intercâmbio na Europa, os da UFRJ não têm muito costume de viajar. Cerca de 65% afirma gastar entre R$ 0 e R$ 300 por mês. Mais uma vez, o motivo está na praticabilidade de preços elevados.

O custo de vida da cidade maravilhosa não assusta, contudo, o austríaco Michael José Morf: “economicamente eu penso que a vida no Rio é tão cara quanto a vida em Salzburgo (Áustria). No entanto, a maior diferença é que em Salzburgo tinha a possibilidade de trabalhar ao mesmo tempo que estudava.” Michael sublinha ainda que a experiência está a ser bastante rentável tanto pelas experiências interculturais quanto pelo peso que o intercâmbio vai ter no seu currículo.

Mas quem são estes alunos?


Portugal e França são os países com maior representação dentre os intercambistas presentes na UFRJ. Os motivos pelos quais os alunos das universidades portuguesas escolhem o Brasil para estudar são fáceis de observar: familiaridade com a língua e até com a cultura. Contudo, porque é que os franceses escolhem a UFRJ?

A França é o país que detém o maior número de convénios. São cerca de 49 instituições francesas as que têm parcerias com a universidade do Rio de Janeiro. Se estabelecermos um termo de comparação, a França tem mais convénios com a UFRJ do que universidades de todo o continente americano. Os dados, esses, foram obtidos no site do Setor de Convénios e Relações Internacionais (SCRI) da UFRJ.

É de referir ainda que mais de metade dos alunos são mulheres e a idade que mais figura está entre os 20 e os 24, cerca de 87% dos intercambistas segundo a amostra.

Gastos aumentam quando estudante mora longe


Moradora de Cosmos fala sobre as dificuldades de sair de casa para ficar próxima à faculdade na Zona Sul do Rio de Janeiro


Morar perto da faculdade facilita a e traz praticidade à vida de qualquer aluno e, por isso, muitos estudantes se submetem a moradias superlotadas, desconfortáveis e/ou de alto custo. Natascha Oliveira, 20, é graduanda de Publicidade e Propaganda na Escola de Comunicação da UFRJ, no Campus da Praia Vermelha, na Urca. A jovem morava com os pais em Cosmos, na zona oeste do Rio de Janeiro, mas após um ano e meio na universidade, resolveu se mudar. Ela levava, no mínimo, duas horas no trajeto: fazia integração do trem com ônibus ou trem com metrô.  Quando acontecia algum problema na Supervia, ela tinha que pegar três ônibus: um para o centro, outro para Campo Grande, e, finalmente, o último para casa.

Além da distância que enfrentava, a estudante conta: “O péssimo serviço de transportes públicos nos horários de ir para faculdade e voltar do estágio para a casa me motivaram a tomar essa decisão”.  Portanto, no início deste ano, no seu quarto período na faculdade, Natascha se mudou para uma “república”, no Catete, que dividia com mais 17 pessoas. Ficou lá até setembro porque, segundo ela, estava “rolando uns perrengues” de falta d’água e luz, e o sumiço de alguns objetos pessoais.

Agora ela mora em um hostel em Botafogo, dividindo o quarto com mais três pessoas. Os gastos são maiores, já que pelo grande número de pessoas que dividiam a “república”, o aluguel ficava próximo a R$400,00. Hoje, ela paga em torno de R$600,00 para ter um pouco mais de conforto. “O Catete é um bairro mais popular, o que me permitia gastar bem menos, não só para me manter, mas no aluguel mesmo. Botafogo é bem mais caro, ainda mais perto do Humaitá, que é onde eu vivo atualmente”, diz.

O aluguel é pago pelos pais, mas a bolsa que ganha no estágio, de R$720,00 mais vale refeição e vale transporte, é exclusivamente usada para pagar o supermercado, o almoço (quando não consegue tempo para comer em casa) e o cartão de crédito, já que a universitária prefere comprar certas coisas a longo prazo. Questionada sobre as dificuldades socioeconômicas que encontra no cotidiano, Natascha conta que foi roubada duas semanas atrás. Ela está aguardando os novos cartões chegarem e, pior, todo seu dinheiro está preso no banco. “É complicado passar por essas situações e não ter os pais do lado. Organizar finanças, conviver com pessoas absolutamente diferentes numa casa que não é, efetivamente, a minha, é sair da zona de conforto. É meio difícil, mas tem sido um grande aprendizado”.

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